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A absorção e a eficácia dos nanocosméticos são superiores aos cosméticos tradicionais

Nanocosméticos são formulações cosméticas que usam a nanotecnologia para veicular ativos ou outros ingredientes nanoestruturados com o foco no ganho de propriedades e desempenho, quando comparado aos cosméticos convencionais. Esta definição reforça exatamente os benefícios e diferenciais de aplicação da nanotecnologia em qualquer área de aplicação: a beleza da nanotecnologia!

Uma realidade de mercado com uma notável variedade de produtos, há mais de 10 anos os nanocosméticos fazem parte do dia a dia das pessoas, principalmente no Brasil, por ser um dos 10 países do mundo com maior número de consumidores de cosméticos (em 2018, estávamos em quarta posição no ranking, de acordo com o site statista). Cuidados com a pele, com os cabelos, maquiagem, perfumes, produtos de higiene e desodorantes e cosméticos orais são os tipos de produtos mais vendidos.

Nanotecnologia nos cosméticos

Já a aplicação da nanotecnologia nesta área concentra-se principalmente (mas não somente) em produtos destinados à aplicação na pele do rosto e do corpo, com ação antienvelhecimento e de fotoproteção. Um dos principais benefícios dos cosméticos cuja ação é baseada na nanotecnologia, os nanocosméticos, é a eficácia aumentada com aplicação de doses menores do ingrediente ativo. Existem, portanto, ganhos na solubilidade do ingrediente cosmético, o que significa melhorias na penetração e no transporte do ingrediente — além da alteração de propriedades físicas, como a cor do produto, por exemplo.

Uma análise qualitativa, baseada na leitura dos resumos e das reivindicações dos documentos de patente depositados no Brasil entre 2008 e 2015, indicou que as nanopartículas de óxidos metálicos (como óxido de zinco e óxido de titânio), as nanoemulsões, os carreadores lipídicos (como os lipossomas) e as nanocápsulas estão entre as principais nanoestruturas usadas nestes cosméticos em desenvolvimento.

A nanotecnologia pode ser aplicada nos nanocosméticos basicamente de duas formas.

  • Através do uso de dispersões contendo lipossomas, nanoemulsões e/ou nanopartículas lipídicas. Estas são usadas principalmente como carreadores dos ingredientes ativos dos cosméticos (podendo estes serem lipo ou hidrossolúveis); ou
  • Uso de nanoformas insolúveis, tais como nanocápsulas poliméricas, e nanopartículas de carbono, sílica, prata, ouro, cobre, etc.

Novidades em nanocosméticos: estudos em desenvolvimento

Cientistas da Louisiana Tech University, nos Estados Unidos, em parceria com um professor da Universidade Federal de Kazan, na Rússia, desenvolveram uma pesquisa na linha de engenharia de superfície, que permite o preparo de uma formulação de um nanocosmético para coloração capilar. A proposta é utilizar nanotubos de haloisita —que são nanoargilas de silicato de alumínio com estrutura naturalmente tubular —como carreadores de pigmentos, visando minimizar os danos mais comuns à saúde capilar, resultantes do uso destes produtos.

A coloração de cabelo costuma deixar os fios bastante ressecados e a fibra capilar mais porosa. Isso porque o peróxido de hidrogênio usado no processo oxida o pigmento na superfície do cabelo, e essas reações redox prejudicam a saúde capilar, deixando os fios quebradiços e mais finos. Os nanotubos de haloisita carregados com o pigmento trariam o benefício de poderem ser utilizados para cabelos com cor natural. Após a aplicação, esses nanotubos carregados com pigmento se organizam na superfície do cabelo, sendo adsorvidos durante a secagem dos fios.

A técnica permite o encapsulamento e o uso da tintura insolúvel em água, que antes não era adequada para o cuidado e a saúde do cabelo. Outros tratamentos capilares, como a queda de cabelo e a prevenção de piolhos também podem se beneficiar desta técnica, assim como outras áreas da indústria (como a têxtil).

Nanocosméticos e toxicidade

Uma outra novidade da área é a publicação recente de um relatório acerca das preocupações de toxicidade e dos riscos das nanoformas em produtos cosméticos. Alguns nanomateriais foram alvos desta análise elaborada pelo Comitê Científico de Segurança do Consumidor (SCCS) da União Europeia, sendo eles: nanopartículas de prata, de sílica (hidratadas e também as modificadas com alkyl silylates), e nanocompostos poliméricos de estireno e acrilatos.

O documento, chamado “Aconselhamento científico sobre a segurança de nanomateriais em cosméticos”, tem a intenção de elencar aspectos importantes relacionados à segurança do uso destas nanoformas em produtos cosméticos, sendo que:

(…) o uso de qualquer nanomaterial em um produto cosmético pode potencialmente levantar uma preocupação sobre a segurança do consumidor, é importante racionalizar essas preocupações e identificar o nanomateriais que requerem atenção prioritária para avaliação de segurança. A este respeito, este conselho destacou brevemente os principais aspectos gerais dos nanomateriais que devem levantar uma preocupação de segurança para um avaliador / gerente de segurança, de modo que o (s) nanomaterial (s) em questão poderia ser submetido a uma avaliação de segurança adequada no contexto do uso em cosméticos para estabelecer segurança para o consumidor.

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O dióxido de titânio é comumente utilizado em protetores solares

Portanto, ao longo do documento, considerações dos aspectos físico-químicos, toxicológicos e de exposição são examinados, e para todos os nanomateriais analisados conclui-se realmente haver base científica para levantar um alerta sobre o uso das nanoformas analisadas em cosméticos. O relatório dispõe de análises detalhadas sobre cada uma destas nanoformas (para quem tiver interesse, é só clicar aqui) e serve realmente ao propósito de auxiliar os profissionais da área de segurança ou nanoHSE na observação de pontos importantes relativos à riscos de exposição e toxicidade.

Além disso, está disponível no documento uma “Lista de nanomateriais prioritários no catálogo da EU (2019) com base no potencial de risco”, em que estão listadas as nanoformas mais utilizadas na área de nanocosméticos seguidas de observações relacionadas aos aspectos de risco. Por exemplo, a nanopartícula de dióxido de titânio (TiO2) aparece na lista, tendo este nanomaterial uma opinião positiva do Comitê (assim como outros, a exemplo do nego de fumo ou carbon black) com relação ao seu uso em protetores solares, principalmente com base na ausência de absorção dérmica das nanopartículas.

Caso tenha interesse em saber mais sobre esta belíssima área em que a nanotecnologia já é bastante aplicada e, ainda assim, tem grande potencial de aplicação, veja abaixo as referências.

Referências:

https://www.gov.br/inpi/pt-br/acesso-a-informacao/pasta-x/radar-tecnologico/arquivos/documentos/n14_radar_tecnologico_nanocosmeticos_versao_estendida_20171116.pdf

https://learningcenter.nsta.org/products/symposia_seminars/fall09/fda/files/WS2-11-24-09.pdf

https://www.statista.com/statistics/1038157/leading-beauty-consumers-worldwide/#:~:text=In%202018%2C%20United%20States%20was,U.S.%20dollars%20in%20that%20year.

https://www.nanowerk.com/spotlight/spotid=50979.php

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780128222867000176

https://ec.europa.eu/health/sites/health/files/scientific_committees/consumer_safety/docs/sccs_o_239.pdf

https://nanotechia.org/news/sccs-publishes-priority-list-nanomaterials-risk-assessment-their-final-publication-regarding

https://www.statista.com/topics/3137/cosmetics-industry/

Escrito por Camila de Oliveira Viana em 29/01/2021