diáspora científica dos pesquisadores brasileiros

Cada vez mais, jovens pesquisadores brasileiros deixam o país permanentemente em busca de oportunidades de trabalho

Apesar de não haver dados oficiais, há alguns anos, números e relatos diversos indicam o aumento da quantidade de pesquisadores brasileiros que saem do país em busca de oportunidades de emprego e sem intenções de retorno.
No ambiente acadêmico, a mobilidade de pesquisadores é bastante incentivada por diversos países (China e Índia são ótimos exemplos) por ser vista como uma oportunidade estratégica de formalizar colaborações internacionais e impulsionar o desenvolvimento científico de um país. Este tipo de mobilidade pressupõe o retorno ou o fortalecimento de uma rede que beneficiará o desenvolvimento científico do país.

Outro exemplo semelhante: o programa de Doutorado Sanduíche e outros que, de forma similar, incentivaram a saída de pesquisadores brasileiros ao exterior por uma duração definida e determinações claras para o retorno ao país. Contudo, vale pontuar que nestes programas nacionais, muitas vezes não houve tempo para a solidificação de redes, então, esta a obrigatoriedade de retorno impossibilitou a concretização de colaborações de pesquisa em longo prazo – além de ter impedido a contratação dos pesquisadores no exterior.

A realidade dos jovens pesquisadores brasileiros

diáspora científica pesquisadores brasileiros

A falta de investimento na ciência e as crises econômicas são um dos principais motivos da diáspora científica.

Por outro lado, o movimento de ‘diáspora científica’ é definido como a saída de talentos que buscam melhores

oportunidades de trabalho, motivados por crises financeiras e econômicas, por exemplo. O que faz sentido para, principalmente, os profissionais em início de carreira que precisam de oportunidades e investimento para alavancar sua linha de pesquisa e tornar-se um profissional competitivo na sua área de atuação.

É o indício da intensificação deste movimento que tem chamado a atenção da comunidade científica brasileira. Um mapeamento está sendo executado por projeto individual chamado de Diáspora Científica Brasileira”. Este projeto, que não possui qualquer vínculo institucional, tem o objetivo de mapear e listar os pesquisadores brasileiros que já saíram do país. De forma secundária, ele pretende ainda permitir a criação de uma rede e o conhecimento da atuação destes profissionais do exterior.

Com base nestes indícios, o CNPq em uma reportagem da BBC, se posicionou sobre o tema, reafirmando a preocupação do Conselho, dizendo que:

“O êxodo dos pesquisadores brasileiros para outros países é uma preocupação, que norteia uma série de iniciativas que o CNPq tem fomentado para aperfeiçoar e ampliar mecanismos de fixação de nossos profissionais da ciência e tecnologia. Dentro das limitações orçamentárias e legais que se aplicam ao CNPq, a agência investe, por exemplo, em programas que, em parceria tanto com instituições públicas quanto a iniciativa privada, incentivam a realização de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação dentro de empresas e indústrias.

O objetivo é, além de contribuir com a formação de recursos humanos mais qualificados, garantir empregabilidade dos pesquisadores. Importante ressaltar que em países como Japão, Coreia do Sul, Israel, EUA e China, mais de 60% do total de seus pesquisadores estão alocados em empresas, segundo dados de 2018 da OCDE. No Brasil, esse percentual é de apenas 18%.”

O CNPq destaca, portanto as dificuldades reais de inserção dos pesquisadores brasileiros no mercado e os desafios para a construção de uma carreira em pesquisa e desenvolvimento no país.

Falta de investimento é motivação para a diáspora científica

Em relação a 2019, os recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) diminuíram 30%, e a verba usada para a compra de insumos e equipamentos destinada ao CNPq sofreu um corte de 80%. Até o mês de outubro de 2019, o Brasil tinha cortado 17892 bolsas para pesquisadores brasileiros, devido à contenção de gastos.

O relatório mais recente de Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação, publicado em 2018, aponta que o Brasil investe menos da metade do percentual dos demais em ciência e pesquisa, destinando apenas pouco mais de 1% do valor total do PIB.

Além disso, faltam insumos e estrutura para os pesquisadores brasileiros, e o excesso de burocracia causa lentidão na produção de conhecimento.

Assim, o país que sempre formou ótimos pesquisadores e foi referência em algumas áreas de conhecimento científico, tem perdido muitos talentos. Uma possível consequência da diáspora é a perda de relevância e da capacidade de desenvolver novas tecnologias, criando uma dependência da produção de outros países, que investem mais na ciência e se interessam em empregar pessoas que são referência em suas respectivas áreas de estudo.

É urgente a intensificação da discussão sobre este tema e construção de uma estratégia eficiente para absorção destes profissionais altamente qualificados no país, com consequente fortalecimento da área de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Referências:

https://sites.google.com/view/diasporacientbr/sobre?authuser=0

https://portal.ufcg.edu.br/em-dia/1087-cientistas-relatam-aumento-de-pesquisadores-em-busca-de-oportunidades-no-exterior.html

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51110626#:~:text=Atualmente%2C%20h%C3%A1%2095%2C4%20mil,8%2C7%20mil%20no%20exterior.&text=%22O%20%C3%AAxodo%20dos%20pesquisadores%20brasileiros,profissionais%20da%20ci%C3%AAncia%20e%20tecnologia.

https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8658500/22431

Artigo escrito por Camila de Oliveira Viana em 18/02/2021